Tuesday, September 27, 2005

Ser de ninguém - Arnaldo Jabor

Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, nos bares, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também".

No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.

A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.

Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.

Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter "alguém para amar"..

Somos livres para optarmos! E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento...


*Um dos poucos textos alheios que tenho prazer em postar.

comment

Anonymous Anonymous said...

Interessante que o Arnaldo Jabor consiga escrever algo que eu concorde... hahahaha

Uma coisa que percebo muito é que pessoas que estão sempre rodeadas de pessoas, andam sempre muito "contentes" são bastante solitárias e se sentem não raras vezes vazias. Porque os laços que se criam são apenas superficiais, sem aquela importância que se tem na amizade de verdade. E nas relações, ditas, mais carnais isso vem com mais força, talvez porque seja bem mais difícil se relacionar em tal nível com outras pessoas, considerando que amizade já é complicado. Na idéia, claro, de que namoro e cia seja algo mais profundo que amizade, mas não deixando de ser esta. É um reflexo da nossa sociedade ultra-consumista, em que o bom é ter o carro do ano, a roupa da moda, a "garota" mais bonita (talvez hoje seja aquele tipo de menina plastificada e com semblante cadavérico de tão magra)... e por aí vai. Ignorando os sentimentos, a identificação, a diferença, a compreensão, coisas tão importantes para um relacionamento mais saudável.

5:22 PM  

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